sábado, 12 de abril de 2008

Reflexão sobre Conferências, participação, mobilização ...

e-mail enviado por Livia De Tommasi para e-grupos da roda, após provocação sobre impressões da Conferência:

Ah, eu também queria muito saber as impressões e sentimentos de voces sobre a conferência!
Eu estive pouquíssimo, e conversei um pouco com Péricles e Isaque (antes e depois). Mas tenho algumas idéias, algumas coisas já falei na mesa da conferência.

Primeiro: nesse processo todo das conferências se perdeu o sentido. Já que não é para fazer propostas de políticas, já que não é para avaliar as políticas existentes, já que não é para eleger conselheiros, para que são essas conferencias? ??? Em PE, me parece que ainda tinham uma questão a mais, ou seja validar a etapa estadual da nacional enquanto momento de discussão também do plano estadual. Meio confuso.

Sei que Edson e Zé Ricardo se botaram na cabeça que as conferências deviam servir, mais que tudo, como um processo de mobilização. Foi isso que colocaram na comissão organizadora, ate aonde eu participei (e onde, infelizmente, não conseguimos fazer passar a proposta que as conferências deviam servir para discutir a política, fazer uma avaliação dos programas existentes, e para eleger os conselheiros). Por isso, o documento-base, porquanto genérico (como disse Péricles) eu acho que pontuava umas quantas coisas importantes, recuperava a história, sobretudo para quem nunca participou, ou muito pouco, dessas mobilizações juvenilistas. E esse era, me parece, o caso da maioria dos participantes do interior, no Recife. Portanto, eu discordei da visão de Péricles que o documento-base não servia para servir de base das discussões. E acho que isso foi um grande erro da comissão nacional, não ter dado centralidade à discussão do documento base. No geral, é assim que funcionam as conferências em outros campos, todo mundo discute o mesmo documento e leva para Brasília as contribuições dos estados ao documento. Isso, por exemplo, funcionou muito bem nas conferencias de Ecosol. Mas nessas de juventude, houve estados onde o documento-base nem foi distribuído! Assim, em cada estado se está discutindo uma coisa diferente, e vai ser difícil, muito difícil, juntar os pedaços na etapa nacional. Mais uma vez, me parece que assim se perde o sentido da coisa, e se corre o risco de organizar festivais (como disse Marcílio).

Por outro lado, me parece que há um conflito instalado, já de tempo, contra a juventude do PCdoB. Eu pessoalmente fico extremamente feliz e satisfeita com eles não estarem conseguindo o que imaginavam que iam conseguir, ou seja, levar a maioria dos delegados deles para Brasília (assim como, de fato, conseguiram fazer no Conjuve). Mas, fico muito preocupada da forma como se está fazendo isso (corremos o risco de, também, ser "manipuladores" de outros, os do "interior" por exemplo) e, sobretudo, dessa triste redução da política a um conflito com um partido.

Me pergunto: o que esta em jogo nesse conflito? Com certeza, uma visão da própria política e do fazer política. Mas tudo isso, não estando explicitado, fica parecendo um mero conflito de interesses, o que empobrece terrivelmente a política.
Se o que esta em jogo são visões de mundo, de construção de um pensamento, de explicitações de posições sobre prioridades, demandas, necessidades, e sobre populismo, paternalismo, cooptação nas formas do fazer política, tudo isso deveria ser o foco da conversa.

E outra coisa: fico extremamente preocupada da gente continuar a colocar todas nossas energias nessa ocasiões de "mobilização" definidas por cima. Quando é que vamos colocar nossas energias e capacidade de articulação e mobilização em ocasiões e propostas de mobilização definidas por nós mesmos?

E por último, me parece que também devem ter cuidado com os "companheiros" que estão no governo. As práticas de cooptação por parte dos governos locais são historia antiga, no Recife, feitas de forma extremamente competente. Mas vocês tem aí várias pessoas que muito sabem sobre isso e podem ajudar na conversa (só para citar uma, a Neide).
Espero ter sido clara, e ter contribuído com o debate de vocês.
beijoes a todos! saudades,
Livia

1 comentários:

Anônimo disse...

Lívia,
Compartilho suas questões. Nesse processo de construção, ou melhor, discussão de PPJ, fiquei muito angustiada sobre o que, de fato, conseguiriamos construir que resultassem em mudanças efetivas para a juventude. Quais os resultados de todo esse processo? Legitimar o governo? Construir políticas de estado? Contribuir para melhorias para a juventude? O que?
Lembro que durante a discussão no Seminário para o Plano Estadual de Juventude, no grupo sobre participação, conversei com algumas companheiras sobre essas questões. Meu sentimento é de que as propostas naquele grupo iam no sentido de que era papel do Estado estimular a participação juvenil, o que, no mínimo, conserva a visão da juventude como problema e da necessidade de intervenção do Estado para solucionar esssa questão.
Fui à Conferência muito na perspectiva de encontrar amigos(as), ver o que estava acontecendo, mas sem vontade nenhuma de discutir novamente aquelas propostas. Não porque não quero contribuir ou por estar voltada apenas para a Academia, mas por não saber que resultados concretos serão possíveis.
Em muitos espaços que participei quando era tocada essa questão, as pessoas perguntavam: O que vamos fazer? Vamos abandonar esses espaços? Será que não podemos transformar esses espaços? Eu, particularmente, compartilho a idéia que nós temos que pensar outras estratégias de luta. Quais? Não sei, mas o que sei é que podemos contruir juntos. Temos investido energia em processos longos, cansativos, enquanto outras decisões, mas que tem rebatimento estrutural para as políticas são tomadas fora desses espaços.
Sei do compromisso dos nossos companheiros que hoje estão nas secretarias de juventude, mas nem por isso o Estado deixou de ser um lugar de disputa. E é preciso não perder isso de vista....
Bjos,