quarta-feira, 1 de outubro de 2008

E-mail da Livia após conversa com integrantes da Rede Juventudes (local:Recife)

Oi amigos! foi ótimo estar com todos vocês e matar um pouco a saudades!
Bem, eu conversei um pouco com um e com outros, ouvindo relatos, criticas e desejos ... e queria dizer para vocês algumas coisas:

1. uma coisa que sempre me pareceu super importante é manter o dialogo, entre diferentes posições, visões, razões, manter um dialogo aberto e franco, única premissa possível para o entendimento. Isso, me pareceu que está se perdendo, entre todos vocês. Essa historia de tantos estar trabalhando no governo, ou bem próximos, parece que criou um entrave, uma separação, entre quem esta dentro e quem esta fora, e o dialogo parece dificil. è preciso ter cuidado, sempre, em não desqualificar as posições do outro, mesmo quando não concordamos. Parece que o fato de se conhecer há tanto tempo cria uns estigmas, e aquele é já etiquetado de alguma coisa, então não se quer muito ouvir o que tem a dizer ... mas eu continuo achando que todos estão, e estamos, no mesmo barco e só juntando de alguma forma as forças é que vai se conseguir remar ...

2. evidentemente, o fato de muitos ter ido trabalhar no governo, provoca um desfalque serio na chamada "sociedade civil". Isso, por um lado, é bastante inevitável (quem poderia, e teria legitimidade, para ir trabalhar no governo tentando implementar as políticas de juventude, se não vocês que já estão nessa historia há tanto tempo?) mesmo porque as pessoas são poucas, no recife em particular ... Por outro lado, acho que é preciso cuidar, sempre, de manter uma massa critica do lado de fora. Sem isso, o lado de dentro vai brochando, num discurso auto-referencial um pouco vislumbrado. .. vamos ficar alertas!

3. em todo caso, é preciso escolher e explicitar claramente de que lado se esta, de que lado se fala. A ambigüidade dificulta, enormemente, o dialogo.

4. Não tem como não ficar decepcionados, do lado de fora, por praticas e decisões tomadas por quem está do lado de dentro (exemplo: um conselho consultivo, com conselheiros escolhidos a dedo por meio de uma "engenharia das cadeiras" sempre foi por nós criticado, e todos assinamos carta de critica redigida à SNJ, ne?).

5. me parece que quem esta do lado de dentro continua tentando implementar uma velha pratica, que é tentar organizar a sociedade civil a partir do governo. Já discutimos e escrevemos sobre isso (a proposito, era legal todos dar uma olhada no livro que resultou daquela pesquisa que fizemos com a Marilia Sposito, sobre PPJ no nivel local, aqui vai a referencia:

SPOSITO, Marilia Pontes (2007), Espaços públicos e tempos juvenis: um estudo de ações do poder público em cidades de regiões metropolitanas brasileiras, São Paulo: Global.

Melucci dizia: "o poder não pode contestar a si mesmo. quem exerce o poder não pode representar, ao mesmo tempo, os conflitos que investem o poder."

6. minha sugestão para quem esta do lado de fora, com atitude critica foi: primeiro, ninguem aqui é inimigo de ninguem, pelo contrario, somos todos amigos, por sorte! segundo: sair do enfrentamento esteril, voltar para as "bases", acumular forças de outra forma, já que o momento não me parece muito propicio para o embate governo-sociedade civil, se articular melhor, no discurso e nas praticas, envolver novos atores ....André deu otimas dicas sobre isso.

7. transparência, me parece sempre fundamental, tanto quanto o respeito pelas posições do outro. transparencia talvez consigo mesmo (as vezes fica bastante confuso até para nós mesmos, entender motivações, desejos e constuir atitudes coerentes).
Bem, é isso. Boa sorte para voces! e vamos continuar a conversa.

Grande abraço a todos,
Livia De Tommasi

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